A MEIS é um conjunto de 6 elementos estratégicos e 4 princípios de projeto resumidos em um diagrama circular que oferece uma visão geral das principais etapas de um projeto de estratégia organizacional a ser realizado coletivamente com apoio e facilitação de um praticante de Design Estratégico ou de qualquer outra metodologia colaborativa.
A parte principal do projeto pode ser realizada no formato de workshop acompanhada de etapas preparatórias e de fechamento. Nas seções a seguir, apresentamos um roteiro de projeto que não constitui uma fórmula pronta, mas sim uma orientação geral que deve ser adaptada e enriquecida a partir do contexto e conhecimento de quem vai conduzir e participar do trabalho.
1. Preparação
A MEIS é uma ferramenta de uso situado, ou seja: ela foi pensada para auxiliar comunidades que necessitam criar ou consolidar um modelo organizacional colaborativo e inovador do ponto de vista social.
A cultura dessa comunidade deve ser levada em consideração no planejamento e execução de cada etapa do uso da MEIS – a forma como o grupo de trabalho será reunido, o local onde acontecerão os encontros, como a ideia do uso da MEIS será introduzida, que dinâmicas serão usadas, o que será feito com o resultado, em que estágio de maturidade está o grupo, que conhecimentos de métodos organizacionais o grupo tem e assim por diante. É a comunidade envolvida que dá o tom e a velocidade do projeto.
2. Formação do Grupo de Trabalho
A MEIS é uma ferramenta que depende inteiramente das características combinadas dos indivíduos participantes. Por isso, é preciso construir um grupo com potencial de proatividade e colaboração. A aplicação da MEIS da forma como é proposta aqui exige um grupo com um mínimo de entendimento e coesão, o que pode ser construído através de processos de comunicação presencial e/ou digital prévios ao trabalho nos workshops. Criar ou fortalecer laços entre o grupo para viabilizar o trabalho coletivo nos workshops é importante. Acima, uma imagem de um convite em PDF enviado por What’sApp para os potenciais participantes dos workshops que deram origem à MEIS.
3. Planejamento e Produção dos Workshops
A criação de insumos para os 6 elementos da MEIS pode se dar das mais diversas formas, desde que respeitando a visão da ferramenta de potencializar a participação e a autonomia dos indivíduos e do grupo. Mais uma vez, é importante levar em consideração a configuração específica do grupo de trabalho para tomar decisões como quantos workshops serão necessários, qual o melhor lugar e localização do trabalho em grupo, como serão apresentadas as orientações e os passos seguintes, o que será feito com o resultado dos workshops e assim por diante.
Na dissertação de mestrado que deu origem à MEIS você pode ler o relato de como funcionou neste caso.
4. Workshops para construção dos elementos estratégicos
Os 6 elementos correspondem a 6 etapas de trabalho em grupo no formato de workshop.
Os 3 primeiros dizem respeito ao levantamento de habilidades, visões e intenções da futura organização:
4. 1 Capacidades
Em vez do grupo iniciar focando nos problemas sociais que estão enfrentando, é proposto iniciar pelo levantamento das Capacidades de cada um. As Capacidades aqui são entendidas de maneira aberta como habilidades pessoais e profissionais, conhecimento formal ou informal, escolar e acadêmico ou derivado de hobbies e interesses ou mesmo áreas de conhecimento ou práticas que os participantes desejem muito desenvolver.
Ou seja, é o que o grupo é capaz de mobilizar conjuntamente para esse projeto de organização. Para esta atividade, no caso original os participantes foram organizados em duplas e entrevistaram uns aos outros usando a tabela acima como roteiro.
4.2 Bem-Estar
Seguindo a proposta de Ezio Manzini (2003), é necessário que o grupo alinhe sua visão de bem-estar quando quer alcançá-lo. Então, após levantar suas Capacidades, inspirado também nesse momento apreciativo, o grupo constrói uma ou mais visões compartilhadas de bem-estar. É importante que sejam visões de bem-estar desse grupo específico, pois é isso que vai garantir o engajamento das pessoas bem como o melhor uso de suas Capacidades.
Criar uma ou mais visões de bem-estar antes de criar as ações é algo que também ajuda a alinhar e a evitar problemas de desalinhamento futuros, promovendo um diálogo estratégico antes de qualquer iniciativa mais operacional. Nesse momento, na pesquisa que deu origem à MEIS o método utilizado foi a construção de Cenários Orientadores do Design (link ).
4.3 Atividades Participativas
A proposta da MEIS é conectar as Capacidades à visão de Bem-Estar do grupo através de Atividades Participativas. É o momento de ideação para gerar produtos, serviços, sistemas produto-serviço, comunicações ou espaços que utilizam as Capacidades do grupo para que o grupo e seus beneficiários caminhem em direção à visão de bem-estar gerada coletivamente. Nessa etapa, os participantes do grupo da pesquisa fizeram um momento de Ideação conduzida pelo facilitador.
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A Área 2 é dedicada a examinar e refinar o que foi gerado na Área 1. Essas três atividades foram conduzidas no formato de discussão e geração de soluções organizadas em quadros com post-its (fotos). Assim, o grupo questiona a si mesmo:
4.4 Inclusão
As Atividades Participativas criadas permitem a inclusão de pessoas de diferentes classes sociais, raças, etnias e capacidades cognitivas, emocionais ou motoras? Se não, que Capacidades precisam ser adquiridas pelo grupo e que melhorias precisam ser feitas na visão de Bem-Estar e nas Atividades Participativas?
4.5 Sustentabilidade
As Atividades Participativas são sustentáveis ambientalmente e socialmente? Promove um uso responsável dos recursos naturais, financeiros e cognitivos de forma que não impeça o desenvolvimento de outras pessoas no presente e no futuro? Se não, que Capacidades precisam ser adquiridas pelo grupo e que melhorias precisam ser feitas na visão de Bem-Estar e nas Atividades Participativas?
4.6 Viabilidade
As Atividades Participativas são viáveis e sustentáveis financeiramente no longo prazo? Se não, que Capacidades precisam ser adquiridas pelo grupo e que melhorias precisam ser feitas na visão de Bem-Estar e nas Atividades Participativas?
5. Consolidação dos resultados
A partir dos insumos gerados nas 6 etapas, consolida-se os resultados do trabalho usando a MEIS como base, oferecendo uma visão geral dos principais elementos estratégicos da organização conforme demonstrado na imagem abaixo. Este uso é similar ao de ferramentas como o Canvas do Modelo de Negócios e seu principal objetivo é prover uma síntese do modelo organizacional para que o grupo possa discutir se esse é de fato o caminho desejado e prosseguir ou não com a operacionalização dessa organização.
Essa etapa pode se dar também de forma coletiva em um workshop com facilitação, mas foi separada para se ressaltar a importância de separar um momento específico para o grupo olhar e dialogar sobre o modelo resultante.
6. Planejamento da Jornada
A construção da MEIS é parte de uma jornada maior, a qual necessita ser planejada tanto do ponto de vista da autonomia e atividades do grupo como da função e participação de uma pessoa facilitadora especialista. No trabalho sobre a Jornada da Inovação Social das já citadas Meroni, Corubolo e Bartolomeu (imagem acima) existe um roteiro adicional sobre esse planejamento a partir da perspectiva do Design para Inovação Social. Clique aqui para conhecer (em inglês).
Continue a leitura em Aplicando 4 princípios da Gestão por Mandalas.
Bibliografia da seção
BARBOSA, Rogério Lima; PORTUGAL, Sílvia. O associativismo faz bem à saúde? O caso das doenças raras. Ciência & saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 23, n. 2, p. 417-430, fev. 2018. Disponível aqui. Acesso em: 24 mar 2019.
MANZINI, Ezio. Scenarios of sustainable wellbeing. Design philosophy papers, [S.l.], v. 1, n. 1, p. 5-21, 2003a. Disponível aqui. Acesso em: 22 fev. 2020.
MERONI, Anna; CORUBOLO, Marta; BARTOLOMEU, Matteo. The social innovation journey: emerging challenges in service design for the incubation of social innovation. In: SANGIORGI, Daniela; PRENDIVILLE, Alison (ed.). Designing for service: key issues and new directions. Londres: Bloomsbury, 2017. p. 163-181.
MERONI, Anna. Depicting solutions: tools and techniques for describing services. In: MANZINI, Ezio; JÉGOU, François (org.). Sustainable everyday: scenarios of urban life. Milano: Edizioni Ambiente, 2003. p. 235-239.
MERONI, Anna; FASSI, Davide; SIMEONE, Giulia. Design for Social Innovation as a form of design activism: an action format. In: SOCIAL FRONTIERS: the next edge of social innovation research conference proceedings. London: Nesta, 2013. Disponível aqui. Acesso em: 24 mar. 2019.
STRATEGIC DESIGN SCENARIOS (SDS). Tools we use. Bruxelas: SDS, [2010-2013]. Disponível aqui. Acesso em: 27 mar. 2019.
TASSI, Roberta. Service design tools. Milão, 2009. Disponível aqui. Acesso em: 27 mar. 2019.